No último Dia do Professor, celebrado há exatamente uma semana, lembrei-me da história de como um jovem teria se motivado a também tornar-se professor. Verdadeira ou fictícia, pouco importa. Histórias inspiram, e esta reforça a importância dos mestres por toda a nossa vida:
- Olá, professor. Fui seu aluno há muitos anos. Lembra-se de mim?
- Infelizmente, não. O que anda fazendo?
- Hoje também sou professor, graças ao senhor.
E contou a sua história de inspiração:
- Certo dia um colega de sala chegou com um relógio novo muito bonito, e eu resolvi furtá-lo. Tirei do seu bolso sem que ninguém visse. Quando ele percebeu, contou para o senhor, que indagou se alguém havia visto o relógio. Ninguém se pronunciou, tampouco eu. Então o senhor disse que iria revistar-nos um a um e pediu a todos os alunos que permanecessem de olhos fechados. Assim foi feito. Quando chegou até mim, encontrou o relógio, mas continuou a revistar todos os colegas. Nenhum colega soube quem tinha sido o ladrão, e o senhor nunca me falou nada a respeito. Sequer me deu uma lição de moral, mas eu entendi muito bem a mensagem. Não se lembra mesmo de mim?
- Bem, eu me lembro do episódio, do relógio furtado, mas não teria como me lembrar de você, pois eu também fechei meus olhos ao revistar os alunos.
A parábola nos sensibiliza, podemos louvar a atitude do mestre e a sua influência na formação do jovem, mas estamos preparados para aplicar a sua moral em nosso dia a dia? Receio que não.
Não se trata de omitir-se diante de malfeitos nem de mostrar-se complacente com desvios de conduta. Alguém poderia achar que o professor deveria ter, no mínimo, mandado o aluno à coordenação – ou mesmo ter buscado a aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente pelo cometimento de um ato infracional. Mas será que o impacto na vida do menino seria o mesmo ou agravaria a sua situação de conflito com a lei?
Muitas vezes a melhor lição é dada com serenidade e sem rigor excessivo, afinal o professor é, verdadeiramente, um transformador de vidas.
Leandro Vasques: advogado criminal, Mestre em Direito pela UFPE e Doutorando em Criminologia pela Universidade do Porto, Portugal.